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sábado, 28 de agosto de 2010

“A Vida Alheia” foi a única ousadia da Globo em 2010

Ainda faltam quatro meses para o fim do ano, mas arrisco dizer que o seriado “A Vida Alheia” marcará 2010 como a principal – talvez única – ousadia da programação global nesta temporada. Exibido na noite de quinta-feira, o último episódio da primeira temporada mostrou mais uma vez, sem muito disfarce, os rudes bastidores de uma revista semanal de celebridades.
O texto de Miguel Falabella, Flavio Marinho e Antonia Pellegrino teve a coragem de mostrar situações que os jornalistas conhecem bem, mas o público, de uma maneira geral, não faz ideia que ocorrem em publicações do tipo. Longe de ser um programa de humor, “A Vida Alheia” revelou-se, com freqüência, uma denúncia das artes e manhas  praticadas neste mundo apenas aparentemente festivo.
Catarina (Marília Pêra), a rica proprietária da revista, Alberta (Claudia Jimenez), a editora-chefe, Manuela (Danielle Winits), a melhor repórter, e Lírio (Paulo Vilhena), o paparazzo, deram aulas e aulas, ao longo da temporada, sobre como se faz este tipo de revista.
Numa cena cômica, mas realista, por exemplo, Catarina foi obrigada a publicar uma foto do ex-marido ao lado da nova namorada por causa de um contrato que mantinha com uma joalheria. A revista tinha a obrigação de publicar, uma vez por mês, uma foto indicada pelo cliente de alguma celebridade usando as suas jóias.
Alberta, em diferentes episódios, demonstrou que, entre os talentos de uma editora consagrada, é necessário incluir cara de pau (para mentir), frieza (para chantagear) e arrogância (para promover vinganças pessoais), sempre sob o pretexto de fazer bom jornalismo para o seu público.
No último episódio da primeira temporada, uma ideia de Alberta, realizada por Manuela, acabou resultando num crime. Pressionada, Catarina não hesitou em demitir a repórter para dar uma satisfação à sociedade.
Quando escrevi sobre o primeiro episódio (“A Vida Alheia” faz retrato arrasador do jornalismo de celebridades), leitores lamentaram que não observei as semelhanças do programa com a série americana “Dirt”, sobre os bastidores do jornalismo de celebridades nos EUA. Criada em 2007, com Courtney Cox (ex-“Friends”) no papel principal da inescrupulosa editora de fofocas, a série teve apenas duas temporadas.
Não tenho informações se “Dirt” inspirou “A Vida Alheia”. É possível. Mas está longe de ter “copiado” a série americana. O programa da Globo tratou da realidade brasileira e fez isso com bastante propriedade.
Por Mauricio Stycer

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